28/09/2006

Prova de amor



Acordo em debandada. Arroto enquanto peido: dificultando tanto a definição sonora quanto a aromática. Preciso psicografar uma doutrina de cunho penal encomendada por uma chata entidade. Diverso do eu-lírico, a entidade (perispírito de envoltório causídico) não visa lucro nem flor sobre sepulcro tampouco vendagem às mancheias. A entidade tem o ego dum fóton, apesar de vestir com toga seu novo habitat. Desde amanhã o eu-lírico dorme noutra cama. Eu amo seu ciúme. Amo até os neurônios sedentários de um supino reto. Amo leprosos, da puta filhos, aidéticos, estupradores, mendigos, borboletas, mas sou alérgico a São Francisco de Assis. A avó paterna de minha descendente – gabosa – comenta com imagens, cujos ouvidos descascaram de tanto ouvir, serem meus milagres parecidos com os de San Antonio di Padova, cujo processo de canonização fora mais fugaz que minhas ejaculações precoces: 11 meses. Contesto a comparação. Faleci há 28 anos e até o momento não fui canonizado sequer beatificado. Penso nisso enquanto o eu-lírico, emburrado, insinua se masturbar, tentando excitar pernilongos; enquanto a tv exibe uma matéria sobre um caçador oferecendo o próprio filho a crocodilos famintos. O homem parece realmente amar o moleque, ninguém duvida, porque não permite que a fera o escalpele. Espetacular. Ele foi mundialmente crucificado. Engraçado. Quando Deus Pai pesou a fé de Abraão, ordenando-lhe o abate do filho Isac, ninguém considerou absurdo, ainda mais quando tal “pedido” adveio da vontade do Deus Misericordioso, do inventor do Amor. Louco o caçador? E por mencionar loucura, as pessoas esquecem que a palavra louco pode comportar adjetivação meramente pejorativa. E por discorrer acerca dos conceitos abarcadores da palavra palavra, pilotos de Remington não sabem que texto ideal se consegue ao se reduzir linhas e entrelinhas a uma única palavra-chave, e que convém endereçar a palavra não a editoras, mas a espíritos mais sujos que a luz mansa levada ao irmão. Aprendi com a entidade. Hoje ensino, gratuitamente, a aplicar glutamato monossódico quando preparo quaisquer signos gráficos. Assim realço o que se cala, e não o alardeado sob o pálio da ordem literária vigente. Palestro, a baixo custo, sobre religiosidade. E alerto: quem fita o sol pode ficar completamente cego. Possível amar leprosos, da puta filhos, aidéticos, estupradores, mendigos, borboletas odiando mesquitas, sinagogas, igrejas, bancos. Amo o marido de minha esposa. Amo quando defeco sem conferir se há papel higiênico, e ela retorna – amedrontada como se houvesse visto um eu-lírico vagando –, dizendo que me restou o banho, quando, a filhota, avisa-nos que a Copasa cortou a água. A adorável esposa bate na porta. Abro-a. Ela se retrata. Curva-se perante minha imagem. Mesmo se houvesse água disponível eu não poderia me lavar: ela, distraída, comprou uma barra-fatia de sarnicida em vez de Lux. A entidade me sugeriu dar a barra à sogra de minha esposa. Ela tem um Shih Tzu candango, filhote, da estatura dum zigoto, muito mais caro que o Nike da querida esposa o qual adora mastigar. Mas eu amo o cachorrinho também. Amo seu latido esganiçado, seu cocô, sua ração, seu mijo, sua sarna, seu pinto me roçando. Amo até o leitor. Mas não vou matar nada para provar isso.

10 comentários:

Paola Vannucci disse...

Pensei que ao amar o leitor que te lê, você iria matar os verbetes, lindos e escritos a ti.......

Amor, amar, amores, amarão um dia, quem sabe num mundo mais verdadeiro e honesto.......

Beijos

Paola

Anônimo disse...

Vc é um verdadeiro Deus!!!

Anônimo disse...

Meu grande amigo AUGUSTO DOS ANJOS. DOS ANJOS E DOS DEMÔNIOS. Fiz um poema com esta frase... adorei o seu texto. Esta tal agressividade poética me atrai. Acho que n sei escrever assim. Já escrevi algumas coisas, mas nd parecido. Bem, eu vim, de corpo e alma. E amor. AMORRRRRRRRRR. O que todos nós desejamos. bjs

D'elétrico pede ouvidos disse...

Das feridas escarnadas da minha boca suja,
busco o brilho rútilo do meu sangue vermelho.
Prego a verdade, como um ditador paraguaio,
como um monge sem igreja.
Sou um cara bom, mas só dou mal conselho.
Meus intestinos se contorcem, e mais merda é feita.
São minhas palavras entre os dentes,
contra o tridente do capeta.
Pingando de meu pau inchado, o líquido grosso virulento.
Semeando má influência pro mundo inteiro.
Sai de mim, filho bastardo,
de verdades doloridas, e furúnculos no peito
É ali que me reconheço,
botando os bofes de fora.
Ou vendo as tripas dos outros.
Meio mórbido, meio cançado.
Mas a vontade Dele que seja feita.
Numa luta desarmada pelo direito
de amar ao próximo como a mim mesmo.
Sentindo que o que verte é mesmo meu sangue, minha merda, meu esperma.
ou de alguém que conheço.
Sentindo que ainda tenho o que viver, pois a vida ainda não me disse tudo.
Assim me sinto vivo.
A verdade não existe, só o que se imagina verdadeiro.
Pari um livro mau escrito, mas abandonei-o.

Vc nos leva por lugares tão próximos, o submundo de nós mesmos, mas se a verdade é isso, porque não fazê-lo?
Joga tua sogra no mar, ou diga aos santos que venerem vc,
que acendam velas em tua homenagem.
vale a pena dizer a verdade,
por mais que possa doer.
Continue me mantendo informado da sua literatura.

Ricardo Wagner Alves Borges disse...

Amém.

Paulo Castro disse...

Fudidamente bem escrito,
nem sei se vc queria isso,
se não queria a merda,
mas não tem jeito,
vc é escritor.

e quando atrasa contas...

vc acha gostoso o suspense do corta-não-corta ?

estou sem telefone.

só celular.

e sem créditos.

ontem no VMB ( MTV de cu é rola )

ouvi uma voz como a sua

e disse pra minha

FYIFGGHKHJ:

ei, é a voz do RW, a gostosa do Tocana América Lópolis.

Projecta.

Beijo.

Anônimo disse...

Vamos viver de poesia!?É muito mais prazível!Não preciso matar crianças,nem suportar coisas pra sustentar as minhas.Esse mundo de paredes feias e engrenagens prontas, que eu ainda reluto a ser fino óleo, pra o cão inventor das máquinas e da inexistência da ética.Primeiro pilar pra existência das leis do direito.Realizar o Islã é coisa de maluco,por isso que Deus não tem um amigo,olha como ele nos trata.Quem sabe um dia teremos respostas.Convincentes é claro.

Cristiano Contreiras disse...

Percebo um amor nonsense, mas acredite ou não faz sentido....

Anônimo disse...

Ai quanto amor! Talvez a partir de amanhã, só mesmo com muito amor será possível continuar vivendo nessa arca-de-noé errante e maldita...
Bom finds!

Anônimo disse...

Toda glória ao artista-poeta!
Que continue a nos fazer estas declarações de amor explícito for ever.
Beijo