29/08/2006

Eu pago!



Anteontem derramei catchup na calça do patrão. Ontem ele me assegurou, polidamente, que sou insuportável. Hoje maculei sua bermuda Polo com catuaba Pinheirense. Boquete bêbado não rola. Amanhã ele rasgou uma G Magazine – com inédita pin up do Ursinho Puff ilustrando a capa –, a qual recebi pelo dia dos pais, no dia das mães. Depois de amanhã eu o garanti ser insuportável o seguinte: o fato de não se acumular inimigos.

Todos-tudo me amam, desejam de quatro, às quatro, em (ponto-)pé. Amor empola. Engorda. Irrita. Dilata a propensão à exposição vã do perdido enquanto dito por amor. Potencializa o perfeitamente chato. Um compromisso, a dois, pode anular as particularidades legadas da estrutura ancestral mais sólida. Quem ama conjuga verbos, porém comete adultério quando se mostra leal à temporalidade instituída pela matematicidade metódica, enraizada e estéril de ampulhetas dotadas de tecnologia de ponta. Cobro importância elevada de meus clientes quando os previno dos riscos decorrentes do litígio. Pago-lhes vivos cifrões profusos para afrontarem o desafeto graúdo, facundo, arguto, filho da empáfia acadêmica, bastardo da aristocracia remanescente. Aprecio o divagar rápido da covardia preventiva. A palavra “amor” é uma imagem relutante a saracotear no ar, enquanto o silêncio delata a presença cósmica da intrapessoalidade descortinada pelo egoísmo necessário e edificante.

“Insuportável a ausência marital no lar” – lamuria a esposa a remover toda a bosta-crosta da cueca, ao passo que é muito mais nociva a presença venenosa de quem xinga o amado por amor incorrespondido. Ela jura para os pinheiros, samambaias e grama inteira não tocá-lo nunca mais. Ele promete o mesmo. Ela descumpre no mesmo dia, dirigindo uma vibração sonora que colide contra seu aparelho auditivo. O ser humano compreende o resultado da atividade exercida. Quem ama então é rufião ou cafetina, pois avaliza o sentimento do outro na medida que o seu lucro dependa exclusivamente da resposta (tardia embora sempre compulsória) do amado. Por isso imputo tanta valia ao inimigo decente, pois ele, acaso se enlameie com o ora exarado, aporá seu despeito zombeteiro, externando seus “porquês”, sejam eles coerentes, sejam eles oportunos ou não, enquanto muitas vezes quem jura me amar se atém, preguiçosa e superficialmente, tão-só ao grito lacônico da imagem que o ilustra, e despeja uma falsa torrente de autômatos elogios adocicados com a necessidade ofegante de se expor através do comentário-puta – o que me deixa emputecido.

Quero inimigos. O texto há de recrutá-los! Um deles, o lapso. O passado-presente-futuro forma uma suruba. Como conjugar o tempo se não posso determiná-lo quando o conjugo? O ontem-hoje-amanhã trepa(m) no formato sanduíche, todavia como saber se o futuro, o presente ou o passado ocupa o recheio? Nele subsiste a pluralidade ou a singularidade do sujeito verbal? A subjetividade temporal pode ser cantada em três identidades verbais, isto é, na voz da objetividade? O tempo é uma ininterrupta orgia entre o pretérito, ínterim, porvir. Uma suruba tão bem fu(n)dida que os sexos-tempos se resumem a um só gozo-conceito vago, nada irredutível. Insuportável a ausência do tempo em que colecionava inimigos. Inescusável a idéia minimalista de tempo.

Chegou um cara que me ama. Amigo. Ele disse que se “alembra” como dizer analfabeto em deutsch e aproveita para agulhar meu guarani porque não consigo conjugar o verbo “lembrar”. Vou embora depois dessa. Meu tempo escoou. A catuaba pifou. O cigarro calou. O texto... fin/ou. Retire-se, leitor! Foda-se-me. Não lhe devo mensagens de auto-ajuda, aforismos polêmicos, sugestão de como aumentar o diâmetro do boquete, responder por que uma ereção bem sucedida culmina com a horizontalidade da base peniana, sequer apontar uma panacéia para obstaculizar a inserção de terminologia pornográfica no texto... Quero mesmo um inimigo. Quer ser um? Mesmo? Êba! Vamos então tomar uma pra celebrar. Eu pago!

20/08/2006

Algumas razões da apostasia

  1. Tive a caligrafia bonita. Cada signo alfabético era delineado qual adorno de portão cemiterial. Fui desenhista. Naquele tempo dormia na rua. Minha genitora não admitia o entremeio, no colo de seu apartamento-capela, sequer de um debate ameno, em família, alusivo ao repertório vero-vasto apregoado pela mitologia católica. Tudo-tudo-tudo, em rito sumário, era denominado blasfêmia. Participei de terços calado, o que configurava motivo-pressuposto favorável ao deferimento de minha excomunhão da sala. Não me era permitido andar com gente espírita. Minhas namoradas deveriam proceder da porra dum mesmo Pai romano. Fodia uma kardecista – de pirraça –, a qual me rendeu alguns vexames, sonos na rua sob chuva colérica. Não podia não ser católico. Não podia me aproximar de um não-católico. Não podia estar em mim.
  2. Descobri a filosofia quando cabulava o 2º ano científico na biblioteca pública. Minha genitora, sabendo dessa inclinação, apresentou-me alguns padres existencialistas, leitores de Álvarez de Azevedo, bebedores de Kronenbier. Padres seriam amigos, nortes ideais. Um deles, cônscio de que eu era órfão de pai mundano, molestou-me, sob o argumento de que supriria a ausência do marido de minha genitora. Fui aluno bolsista de sua instituição de ensino. Graças à generosidade do padre e argúcia materna. Gostei daquele colégio. Só não gostei do padre roçar meus pentelhos co’a mão suja de giz; chupar-me com a palavra de Deus donde escorria Pomarolla. Aquela mesma boca salivava Gênesis, Coríntios, Efésios, mascava a Virgindade-Pão do Nazareno... Bobagem! Ele agiu eivado de boa-fé. Só queria suprir a ausência do marido de minha genitora.
  3. Em tenra puberdade, recolhia-me num pichado casebre bem ao lado do despotismo materno. Fingia dormir enquanto gente trepava sob o ímpeto do crack. Fui coagido pelo Espírito Santo a execrar camisetas pretas, cedês, postêrs, brincos, braceletes fundamentais à composição da imagem do headbanger caipira. Os adereços adquiri com dificuldade. Naquele tempo era office-boy. Itaú. Caixa. Bradesco. Mictório público. Com o primeiro meio-salário providenciei um walkman o qual até hoje devo. Nunca fui bom em saldar dívidas nem promessas. Confessei que cessaria ad infinitum as punhetas. Gostava de me masturbar no banheiro do chefe. Extasiava em arrancar bosta da secretária eletrônica. Gostava de ouvir Exorcist nas filas bancárias. Esforçava-me para suportar idosos à frente, atrás, ao lado, abaixo que, inoportunamente, centravam o olhar baço direto em minhas argolas. HSBC. Unibanco. Real. Boteco. Nas filas, não raro havia um velho gaboso em ser reto, honesto, bisavô e eleitor. Eu não conheci avô-avós, mas com 16 anos me deparei com a velhice. Quase sempre um salientava ser reto. E não à toa eles tinham cara de cu.
  4. Idosos bem sucedidos têm o hábito de ensinar o hormônio a viver. Confundem idade cronológica avançada com maturidade vivencial apreendida. Caricaturei alguns mestres idosos. Preferia nanquim. Empunhava com precisão esgrimista uma pena. Preferia uma extraída do reto de querubim a uma doada pela harpia. Nunca imaginei escrever. Nunca pensei deixar de desenhar. Hoje sofro de delírio paranóide de cunho persecutório: o conflito me segue em todos os lugares-idéias. Um árduo conflito é sentar-se à mesa junto a quem rumina com a boca escancarada, em alto e bom som, e cujo palitar dos dentes soa mais escandaloso que o orgasmo de quem experimenta a Deus. Outro conflito é conviver com a advocacia, pois ela asfixia a liberdade inerente à criação artística, e não por se fazer inibida pela natureza ordenadora das leis, mas pela ineficiência destas. A linguagem jurídica (codificada ou não) é pobre em imagens. Ademais, e consoante, a Justiça é cega: confunde dedo com pica e reclama que a pica é fina.
  5. Agora aproveito o momento em que passa algo cômico na TV para rir d’algo realmente engraçado que salta em minha memória – sem que ninguém perceba do que realmente rio. Hoje tento despreocupar a esposa-magistrado que o cabelo inflamado no saco é uma verruga e não sintoma de DST. Hoje amo a mesma esposa a esmurrar a porta de wafer do banheiro, energúmena, a vociferar: “Anda co’a merda do banho!”, com a filhota: “Papai: deixa eu entrar que o cocô tá saindo!”. Assim esqueço aquele padre-pai e o ventre despótico da puberdade recente. Assim posso consolar minha ignorância laica por não saber onde finda a humanidade e onde inicia a divindade de Cristo – a fim de saber se Sua paixão faz jus ao honesto pranto devoto.
  6. Ora: a Carne onipotente suporta quaisquer cusparadas, sevícias, crucificações, destarte o Filho-Deus bancar a humanidade-mártir denuncia charlatanismo, fraude teatralizada com sangue AB. Um Deus reduzido a homem “capaz de ressuscitar” blefa baixo. Jesus guardava a carta-mor do baralho. Grosso modo, Cristo foi o primeiro masoquista ou o primeiro ilusionista. Masoquista não. Como avaliar a intensidade do sofrimento impingido (pelo Pai-Deus) ao próprio Filho-Deus, pois Quem criou a dor, conhece-a bem a fundo, intimamente, e conhecendo-a, doma-a, como ninguém? Suas miríades de cicatrizes se fazem dignas de suspeição. A tolerância de uma divindade à dor nunca equiparar-se-á à resistência de um homem no tocante à mesma dor. Subsiste uma discrepância infinita entre ambos, óbvio. O que uma divindade pode sofrer jamais implica o mesmo que um reles humano sente. Se Cristo fosse mero humano eu prostrar-me-ia cristão, e me enxugaria no Seu manto. Quando o Redentor ressuscitou Lázaro provou Sua divindade, mas quando morreu na cruz sofreu como um homem, por quê? Como sabê-lo? A um Deus, o sofrimento carnal pode tornar-se facilmente suportável, nulo, pois Sua tolerância à dor pode – e deve – ser perfeitamente imensurável. Conveniente afirmar que Ele morreu na condição de “mero” homem! Reitero: como delimitar a humanidade/divindade de Cristo, através do esquadro da conveniência, do interesse, da abstração cristãs? Só entendo que sentir pena de Deus soa ridículo, por mais próximo que Ele tenha se aproximado da descartabilidade humana, porque Ele “nunca” absteve-Se dos atributos divinais. Nunca foi um homem. Jamais pôde haver nascido como um humano Alguém gerado sem sêmen humano. Valho-me do preciso e cabal exame de DNA para corroborar se é possível constatar a paternidade “humana” de Jesus. Já eu fui sim concebido a partir da porra dum pinto! Cristo não. Logo, como louvar Alguém que despreza a serventia duma pica? Ademais, doutra ótica, o que o senso comum denomina Obediência (em se tratando do acatamento por Deus-Filho do Cálice estendido por Deus-Pai) considero o mais torpe filhocídio. Eu sou pai, e se amo minha filha jamais haveria de consentir com a mais ínfima lesão que se a sujeitassem, tampouco a ordenaria que se submetesse a tal. Jesus não morreu por nós – mas pelo Seu Pai. Jesus anulou a excelsitude da expiação quando retornou dos mortos, porque aquele sacrifício importava “perda”, in casu, renúncia absoluta da própria Vida. Ora: quem ressuscita anula a morte. Simulacro do Amor Alguém se permitir morto e em 3 dias ressuscitar... Falso Amor paterno impor humilhação extrema ao único Filho. Quem ama protege, zela... O Redentor zombou de nós. Emocionar-me? Em síntese, sacrifício consiste em transcender possibilidades, mas ao Deus ou Filho-Deus tudo é transponível. Humpf. Neste átimo, sinto-me sobremaneira consolado ao constatar que Jesus foi a personificação do alcoolismo – pois Seu sangue é puro vinho.
  7. No ano corrente, a convite da genitora, participei (da última meia hora do dia derradeiro) de uma missa perpetrada pelo Congresso Nacional da Renovação Carismática Católica, no Espírito Santo (estado-coincidência?). Lá, atrás de mim-esposa-filha, concentrava-se um pessoal tão petulante quanto visionário. Um deles cutucou o ombro de minha esposa, chamando-a ao cochicho. De súbito, durante a cerimônia-surto, a mãe de minha filha chorou a soluçar. A cotucante, que nunca nos viu antes, alertou-a duma tragédia: se eu não cessasse a ingestão de álcool ela perder-me-ia para sempre – embora Deus soubesse que meu problema há muito fosse o Verbo. Depois, o pessoal todo, uns 5, impressionou-nos mais ainda: explicou que estávamos eu-esposa-filha cochilando nas cadeiras porque Satanás não queria nossa participação naquela missa. Os presunçosos não sabiam que eu-mulher-filha havíamos viajado por mais de 16 horas de ônibus, sem pausa decente e sem dormir, e que dormíamos naquela cidade, no máximo, 4 horas diárias, durante os 4 dias de estadia. Eles não sabiam que aproveitamos uma carona objetivando conhecer a Praia da Costa (na qual todos nos divertimos e queimamos calorias bastantes – o que contribuiu mais ainda para o cansaço da turma), e não o Congresso. Eles teimavam que nossa exaustão era fruto de uma vontade demoníaca, mas jamais um fato-resposta natural. Tentamos dormir ali. Juro. Contudo os filhos da puta videntes não nos permitiram: o Diabo ali foi eles.
  8. Muito se fala que o ateísmo corresponde a uma conduta daquele que não aceita existir nada acima do ser humano, isto é, um comportamento megalomaníaco. Ora: mas por que não pode existir algo além do homem diverso de um Deus? A autêntica blasfêmia, passível de valoração, só pode ser proferida por um crédulo. Dita por um dito ateu importa o mesmo que uma pedra arremessada à deriva. Um ateu não pode sequer balbuciar blasfêmias, pois o objeto dela (Deus), no seu caso, inexiste. Lado outro, o teísta peca mais que o ateu. Enquanto o teísta espera o Deus omisso intervir ele exclui o senso de humanismo a nós intrínseco. O ateu dispensa o Deus e age a favor da humanidade, diretamente. O ateu não age mais em prol da humanidade que um teísta, mas muito mais que o próprio Deus onipotente, misericordioso. O ateu tem a caligrafia bonita.

12/08/2006

To be beat

Allen Ginsberg & Peter Orlovsky (nude portrait)


A fraqueza insinua uma baforada com a nicotina avulsa, mesmo que seja no beiço do nacional US. Beber não posso. Porém decaio quando, num boteco periférico, alguém aceita um livro meu em troca de 2, 3 cervas só porque conheceram meu pai, nos botecos da vida, e eu o lembro, física e boemiamente, demais. Valendo-me da dedicatória, consigo extorquir mais bebida. Não devolvo a caneta com que dedico: taxa cobrada em sinal de tolerância aos bêbados, os quais, malgrado pertencer e representar a classe com precoce virtuose, não os suporto. De um preceito para outro conseguia me convencer, naquele ensejo, de que a ressaca moral é mais uma dentre tantas convenções e não um instinto de autopunição com sotaque de locução interior soletrada pela autopreservação.

Fora dali. Na praça cuja estátua de Dom Bosco usa batom. Apelo para o mendigo no intento de obter Coca-Cola no supermercado BIG e assim asserenar a brasa de sua, digo, "nossa" vodca. "Vá lá, sô! Diga que você quer um refrigerante pra acompanhar o mexido que você ganhou." E o comparsa desce a avenida batucando a Fanta Uva 600 mililitros. Sentia alguma pena do coitado, mas me sentia culpado por ainda estar ali e lúcido, na qualidade de confessor de capoeirista trêbado, fedido — e chato. Eu, qual um porta-voz da caridade espírita, deixei o exemplar (livro) roto com a figura encardida, e rumei sem lembrar donde parti e aonde haveria de me aportar com o imundo pacote em mãos.

Na loja de conveniência do posto Max, rente ao termo da Via Crucis, o que outrora era remota lembrança à deriva, de súbito, ajustava-se "ao" peito, mas não "no" peito. Lembrava-me que a memória parecia 12 PMs versus 1 baseado confesso. Sim. Reminiscências podem ser truculentas, dolorosas, desproporcionais. Um dependente de etílico ou de ilícitos pode restar com minguada soma neural, contudo cada neurônio remanescente é da estatura dum carrapato de Nelore.

Um dependente pode muito bem se recordar do palestrante Carlos Eugênio Bonatelli que, segundo ele próprio e a credibilidade que minha ingenuidade se lhe atribuía, havia se curado das drogas, entanto fumava tabaco sobre o tablado da Escola Estadual Vasco Santos enquanto dirigia a palavra aos adolescentes. Um dependente pode rever o dia em que afrontou um pau-mandado do próprio ego (incabível em Narciso); pode igualmente revisar o verbete donde consta significar "palavra" dádiva e não sina; que o filho, com o pau duro pela luz no fim do beco, dependia do coração compatível, e seu ascendente alentado suicidou tão-só para que ele sobrevivesse; que o transplantado, anos decorridos e décadas usufruindo do viço, ao descobrir a procedência daquele órgão desferiu uma punhalada no peito, erradicando o pai.

Brinquei muito de molestar o neurônio virgem. Hoje, no mesmo boteco que está em todos os lugares, sou o bacharel cuja única petição leva até 3 meses para ser comentada por no máximo 3 leitores diversos dos destinatários. Pouco penetrei as alcovas-doce-lar de Christianes F., Brunas Surfistinhas... Pouco (e sem o gabo de haver vexado) injetei o modelo ginsberguiano de extrapolação (a)narco-experimental. Minha biografia não me/te permite. Basta-me a deficiência crua do órgão visual para autopsiar o derrame lítero-vascular. Dispenso arco-íris em ampolas; basta-me a altura do ego careta que me derruba por trás. Não almejo me curar de álcoois, nicotinas, colas, maconhas, cloridratos de cocaína. Contentar-me-ei com ser curado da palavra.

11/08/2006

Matadouro


Insone. Ergo ego. Acometido de entrepausa expendo. E o Dia se enluta e enlata e a rotina rotula – como é cediço. Com uma hora de Vida, traja-se de Morte até que a Onipotência cisque com o sobrolho um sol de vagaluminúsculos (um rol).

Insone. Presto-me. A Mão Áspera arranha a contagem de carneiros desacatando cercarias. Um cochicho bifurcado diz coisas sem nicho. Reitero a mudez – transpiro retórica –, (salva alva calva de palmas, mas más).

Insone. De súbito apalpo imbuído de taciturnidade quilométrica. Sento-me na escadaria franzina. Acareio o seio do binômio Dia/Noite. Centro, motorizado com o tabaco sem grife nem grifo. Acareio a epiderme abatida, abocanhada pelo prendedor por sobre a calvície do bambu bêbado. O telhado da cama de casal encharcado cumpre, adinâmico, a sangria, em síncrono. Retorce, rosna, resiste debalde: a rês – e domada e postergada e ali – há de ser ferida no dúplice dorso, à brasa, há. Depois de demasiado rito catártico: para um qualquer, diletante, gozar cuspe em sua face estoicauterizada.

Insone.


(Extraído de um dos habitats do cupim)