29/04/2008

Judiciário, povo, polícia e mídia por conta: quem diz mais lorotas?

Pai e madrasta de Isabella Nardoni – aleluia! – enfrentam o tribunal do júri. A parte acusatória inicia o teatro. A defesa rezinga. A acusação pede réplica, a defesa tréplica e uma Perrier quando, de súbito, Mike Enslin invade de súcia o local. Decorridos 14 anos e 8 meses da morte brutal de Isabella, Enslin – uma ideal treta entre escritor bestisselerado, perito e caça-fantasmas cético pra dedéu (que nem mesmo Stephen King seria competente o bastante pra inventar!) – esbraveja que havia adentrado o apartamento dos Nardoni e ali ter deslindado o crime: contatou o espírito da criança, a qual lhe relatou a verdade, apesar de ele não se preocupar se ela era mesmo real ou, caso o fosse, se lhe confiava a dura realidade sobre si própria. Enslin também não media comoção diante do "caso Isabella", ainda mais por ter perdido sua única filha, embora não de forma tão horrenda. Todos os presentes se agitam, acotovelando-se. O magistrado solicita aos policiais a retirada de Enslin e demais manifestantes, depois repassa a papelada, num gesto que parte a cena ao meio, ao escrevente. Longe dali, doutro lado da cidade, a população clama por justiça, instalados na porta da casa do suposto inventor de cercas de segurança pra janelas. O magistrado exige silêncio, sacudindo a sentença. A patota do MST continua a quebradeira, e sequer ouve o juiz finalizar que os acusados Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram absolvidos de todos os crimes a eles imputados (W.O.). A defesa comemora. Estoura o champagne. Outros acertam as apostas, como na Bovespa. Repórteres da Record comentam novamente a estupenda tese da defesa, a qual insistia que a vítima, pendurada na janela de seu quarto, a observar o acelerado vaivém dos carros e transeuntes na noite de Domingo, desequilibrou-se com o abalo de 5,2 na escala Richter, de sorte que a cerca não suportou seu peso, cedeu, e por fim ela despencou. A acusação, depois do trauma da derrota sofrida, clinica com Marcelo do BBB8, o psiquiatra mais descolado do momento. Enslin contesta, diz "não pode ser, a menina suicidou; ela mesma apareceu garantindo isso, e criança não mente! ...se matou porque o pai não quis lhe comprar Danoninho naquele supermercado – onde já se viu alguém cometer tamanha crueldade com uma menininha?" Suzane Richthofen, atual apresentadora do SuperPop, divulga: "Não percam! Excursão pro apê de Isabella. Saída: 12 de Outubro. (...) O Panamericano parcela em até 12 vezes". (...) Fátima Bernardes anuncia: "Terremoto pega pena máxima".

17/04/2008

Dialética emeésseênica

Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:29):
Não vejo sentido nem pra escrever, por isso protelo tanto a possível publicação de um texto.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:30):
Isso tudo que vc diz, penso eu, já é um sentido pra escrever.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:30):
Se não for esse o sentido de escrever, será qual?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:36):
Não escrevo por prazer nem por obrigação ou necessidade fisiológica: o faço pra provar, pra mim mesmo, que não me faço presente – e é possível – enquanto me distraio no ato de escrever. Enfim, escrevo pelo fato de não me suportar, ou (como já salientei em priscas fases) pra me proteger de mim mesmo, pelo menos no momento que me dedico à escrita.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:36):
E por isso é tão intenso.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:36):
Nah.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:36):
E aí está o sentido.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:37):
Mas só dura enquanto vislumbro valor na escrita, pois ela é ato, mais que resultado.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:37):
É verdade.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:38):
Mas então, em algum momento, existe um sentido... mesmo que efêmero.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:40):
Na escrita, a causa supera o efeito: importa o que nos impulsiona a criar, pois só assim superamos a origem do que não suportamos, mas jamais aniquilando a origem, as raízes de nosso desequilíbrio (em inabalável e sutil processo construtivo).
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:41):
Ricardo...
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:41):
E como, de repente, vc me diz que não vê mais sentido em nada?
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:42):
Se sua escrita já é o sentido, a origem e a superação do que não suporta ou, até, do que vc ama e odeia em si mesmo?
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:43):
Tô falando alguma bobagem?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:44):
Não me consola depender da escrita, constantemente; também, caso surtisse efeito ao menos de consolo, o entrave (instalado lá na origem) daria gargalhadas de mim, mesmo quando desistisse de criar algo, porque agindo assim simulo, e o fingimento alimenta e encorpa rapidamente a base de nossa sólida desestrutura. No mais, não há solução aparente nem oculta, pois se uma ou outra fossem eficazes, chegariam até nós por intermédio do texto gerado.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:45):
E, se o texto consola, ao mesmo tempo deseduca psiquismos ancestrais.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:46):
É... pode ser.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:47):
Feliz mesmo é quem não precisa recorrer à produção literária ou artística.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:49):
Talvez seja mesmo cimento para a desestrutura... mas, ainda assim, acredito que seria pior se o texto não nos servisse, em alguns momentos, como refúgio, seja ele bom ou ruim. Eu acho que a desestrutura acontece de qualquer maneira. E o texto só dá um prazer maior a ela. Por isso vejo sentido.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:49):
Vc acha que seria melhor se não escrevesse?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (00:54):
Quem existe, sob o risco da autenticidade, não tem o direito/opção de fazer tal escolha; quem existe tem o dever de existir textualmente (e quando digo “textualmente”, faço alusão direta a todas as linguagens, haja vista que tudo contém intervenção “textual”; algo próximo ao ato de “falar”, o qual se dá também por meio do silêncio oral, ou seja, através da “escrita”); mas veja bem (nas palavras do Caninha do Caruaru, o cara mais under que Igor Cavalera, que trocou o metal por Boys Noize), quem existe verdadeiramente, quem encara suas origens, instintos, tropeços e excessos. Quem, pois, nunca cometeu um excesso, ainda não saiu do útero materno; quem teme cometer excessos, sequer foi esboçado ou tem tal direito.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:55):
Eu vejo total autenticidade em vc... não só na forma como vc se mostra.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:55):
Mas de um jeito estranho.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:56):
Que consigo perceber.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:56):
E, por essa autenticidade, eu acredito que vc tenha – e deva ter – muito o que dar de sentido às coisas.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (00:57):
Seja pelos textos ou não.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:00):
As coisas somente requerem sentido a partir duma constatação, malgrado não amiúde imprudente e brusca, de que o sentido depende mais destas coisas que estas coisas do sentido. Uma coisa, enquanto objeto oculto e inacessível, existe mesmo se desprovida de sentido/significado; agora, um sentido não se lança projetado à nossa faculdade de atribuir significação se não há uma coisa que o anteceda.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:01):
Concordo. E qual a coisa que te antecede?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:05):
Os crentes, de antemão, dizem ser deus (porém, se deus existisse, ele jamais teria permitido que o homem o inventasse); outros, até mesmo os céticos confessos, esbarram em argumentos metafísicos – o que chega a ser uma admissão de causa primária, independente e soberana a tudo, embora desconhecida (ininteligível, logo, inexplicável), mas alicerçada nesta causa respondem, e não explicam, seus vulneráveis conceitos de origem divina das coisas existência humana afora; eu prefiro dizer que o que me antecede é a escolha (nesta ocasião posso escolher), a invenção de algo que faça jus a um primeiro sentido, ou seja, uma coisa-sentido.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:07):
Assim sendo, há de se notar que o próprio sentido se confunde com a coisa bruta, pois não podemos precisar a origem de empiricamente nada do que diz respeito a origens, provas ancestrais, de idéias sobretudo mais remotas.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:08):
E vc já tentou, ou acha que identificou essa "invenção de algo que faça jus a um primeiro sentido"... que algo? que coisa?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:08):
O homem não sabe, por isso se atém à invenção de coisas e de sentidos os quais mais lhe aprouver.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:09):
E vc deixou de inventá-los?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:14):
Exempli gratia: nosso diálogo designa a existência duma troca de experiências, estas têm seu valor, mas pessoas não afeitas à especulação das coisas e seus respectivos sentidos passariam despercebidas pelo presente diálogo; ora, o inventor depende da invenção, porque a vida não tem sentido quando não a criamos em conformidade com o primeiro objeto: o instinto, a inconsciência...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:16):
Pensar, nada mais é do que se render aos instintos; mas só pensa quem inventa – ou descobre? – a importância de coisas dotadas de sentido (particularidades segundo nossas peculiaridades).
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:17):
Fico feliz...vejo que vc sabe que existe um sentido... derradeiro, mas existe.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:17):
O sentido que vem do instinto, ou da inconsciência... e que podemos chamar de criação...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:18):
Sim, mas tal sentido me custa caro, porque a loucura o antecede.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:18):
É a loucura fascinante.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:19):
Todo louco se torna refém da própria subjetividade, e a extrapola porque a experimentou, inconscientemente, antes de qualquer coisa ou sentido. Nada pode ser considerado alheio à subjetividade. Ocorre que todo louco se externa sem dosar, entretanto nem todo mundo que se externa sem dosar é louco. A relação íntima com a loucura provoca a convicção de sobriedade.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:19):
Não vê que é isso que o torna tão apaixonante?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:19):
Por isso digo, o sentido depende do excesso.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:20):
Quem filosofa excede.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:20):
O legítimo escritor, aquele que existe de fato ao se entregar à ingratidão inerente ao ofício, exagera.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:22):
Amenidades não levam a nada; não passam dum engodo pusilânime, pois quem assim pensa, não age, apenas reage a fim de que as mudanças não ocorram.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:23):
NÃO PASSA DUM ENGODO PUSILÂNIME.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:25):
E todo ato de criação se prostra perante à violência.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:26):
Parir alguém machuca tanto quem pare quanto quem é parido.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:26):
É isso que sinto quando leio seus textos. Uma maturidade que sobrepõe o simples exagero... é uma verdade que transborda. Talvez, por isso, pareça até caricata, às vezes. Mas não menos verdadeira e legítima.Sua loucura concede, sim, veracidade, e mostra seu sentido;
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:27):
lembro quando começamos a nos falar, vc disse que não era nada do que representava nos textos. Disse que era educado e tímido (hehehehe)... lembra disso?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:28):
Sou o texto, mas não me sintetizo em personagens, porque eu os criei para assumirem não o que não conheço (indiretamente) a meu respeito, mas no que alude a uma natureza humana possível.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:29):
Tudo bem que vc não é nem um pouco educado, visto que me xinga e me rebaixa à uma mera escrava...mas quero dizer que a sua forma concede sentido a um outro lado seu.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:29):
Isso.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:30):
Talvez o lado que você não conhece... ou o lado legitimamente humano...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:30):
Você criou o Ricardo que lhe xinga; e mais, o nutre a cada dia, e assim ele se conhece, na reação do outro, no caso, a senhora.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:31):
Rrs.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:31):
Mea culpa.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:32):
Pra alguém se conhecer, não é fundamental se concentrar tanto em si próprio, mas, também, ou até antes, observar o comportamento do outro, pôr-se a olhar à frente, atrás, ao redor...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:32):
Por isso não concordo muito com a pedra fundamental socrática: “conhece-te a ti mesmo”.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:32):
É...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:32):
Conhece-te a ti mesmo – além de ti, enquanto conhece-te!
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:33):
Às vezes me sinto superficial por isso.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:33):
Como se eu me bastasse pra apurar uma verdade pura acerca de mim mesmo.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:33):
Pareço me emaranhar de coisas que não me pertencem.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:34):
O autoconhecimento se manifesta na observação atenciosa e disciplinada da reação do outro diante de nós mesmos.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:35):
Eu não posso dizer com segurança que me conheço sem que o outro diga sobre si próprio quando me aproximo dele.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:35):
Não somos um cofre isolado, trancado em si, cuja chave só nossa subjetividade possui. Nossa subjetividade se baseia no reflexo da do outro e nela se molda, quando com se choca, desentende-se, muito mais do que quando se simpatiza. Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:36):
Somos multiplicidade, variações de identidades – daí vale mencionar o "agenciamento" de Deleuze.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:37):
É verdade... por isso lhe disse, lá no começo dessa conversa que, em algum momento, todos estão sob convencionalismo. Não sobrevivemos sem ele, embora tenhamos oportunidade de escapar em boa parte do tempo.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:37):
Somos todos iguais, porque ninguém sabe nada sobre ninguém até este alguém agir.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:37):
Eu já agi e vc ainda não sabe quase nada.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:38):
Pensa até que sou carismática... rsss.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:38):
Convenção compreende a aceitação duma invenção.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:38):
Hummm.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:38):
Sim.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:38):
Eu penso que é carismática, porque assim você se comporta diante de mim.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:39):
Pelo menos de mim.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:39):
Hahahahahaha.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:39):
Com os outros, já não sei...
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:41):
E, me diga, por que vc não escreve?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:44):
A própria felicidade se encerra numa perfeita invenção; já a tristeza a precede, pois, se se opõe equilibradamente à felicidade, devo admitir que inventou a felicidade pra esta suspender a si própria.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:44):
Uma coisa não atrai seu oposto sem antes inventá-lo.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:45):
Por isso digo que sou feliz na casca.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:46):
É como se a tristeza usasse toda sua criatividade para se travestir, para embarcar num carro alegórico.
....:: S a m a n t h a ::.. diz (01:47):
Mas não é só tristeza... é todo o resto, todo o incômodo.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:48):
Quem pensa (demais?) não se dá conta da importância de se ser feliz, pois pensar é o ato mais remoto, cru e agressivo que existe, ou seja, quem pensa age instintivamente, logo não se preocupa com conseqüências meramente ideais, considerando que uma preocupação desta natureza vai contra o excesso.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:49):
Sim, a tristeza sabe se travestir, pois como ninguém conhece a disposição das cores.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:50):
Sua tristeza se traveste?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:50):
Claro.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:50):
Traveste?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:50):
Sim.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:50):
Se traveste de Alegria?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:50):
Se transforma numa velha caquética cagando de cabeça pra baixo – e realizada (desde que durante a sacralidade do momento declame o hino nacional da Molvânia).
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:52):
Ninguém, como um deprimido, inventa melhor uma alegria, porque conhece o que a antecede, sabe da existência de seu oposto, a fundo.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:52):
É isso.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:52):
É essa a diferença que vejo entre felicidade e alegria.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:53):
E sempre acho a alegria muito triste.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:53):
Ninguém se enche mais de cores e temperaturas do que alguém oco, porque cores e temperaturas carecem de bastante espaço.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:53):
Acho que sou oca.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:53):
Quem não o é?
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:53):
Vc.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:54):
Vc tem sempre muito recheio... seja doce ou azedo.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:55):
Porque excedo.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:55):
Porém extrapolo na vacuidade, convém...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (01:56):
Toda pessoa, seja ela muito doce ou azeda, é antes de tudo, VAZIA.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:58):
Antes de tudo, ok... mas depois de tudo é que está o problema. Vc consegue se imaginar, hoje, depois de tudo o que viveu, de tudo o que pensa e sente, de tudo o que excede ou excedeu, sendo oco?
..:: S a m a n t h a ::.. diz (01:58):
Não restará, sempre, um resquício do que há ou havia, por dentro?
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (02:02):
Salva...
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (02:02):
Eu perdi.
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (02:02):
Bosta. Deve ser praga daquela bicha curitibana que ainda não comi!
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner diz (02:03):
O pc travou!
Exmo. Sr. Dr. Ricardo Wagner acabou de pedir a sua atenção.
..:: S a m a n t h a ::.. diz (02:03):
Oi.

15/04/2008

Papo cabeça com Dolmancé

– Comi o Pixel mesmo! Pô, depois que a parvovirose o matou, deixando-o com a bunda endurecida, ainda mais na minha posição preferida, queria que eu fizesse o quê?

– Você é doente.

– Doente? Pô, eu já cheguei a enrabar minha mãe, viva, que mal há em trepar com um filhote vira-lata, morto? Sabe, bicho, você escolhe demais, por isso não come ninguém.

– Argh. Você me dá nojo! Blergh.

– Enojante é sua ranhetice. E aviso: se você morrer na minha frente, não só lhe curro, como também vendo seu corpo pro primeiro padre que me abordar.

– Você não presta!

– Nah. Desde quando prometi uma conduta condizente com seu pleito religioso*? (...) Deixa de ser presunçoso!

– Isso não é papel de homem, seu...!

– Hilário. Você agora tem coragem de se considerar um homem? Hahaha. Ora, pra você se tornar uma mulher completa, só lhe falta uma pica, caralho! Quer saber: considero macho apenas quem fode a própria mãe. Todos fodem; raro quem o admite; nunca ninguém pôs camisinha. E só não o faço mais porque aquela boneca inflável ainda goza absurdos.

– Vou embora. Não dá pra falar sério contigo. (...) Procura uma puta ou, sei lá. Tem tanta gostosa dando sopa por aí!

– Querido: não priorizo mulheres nem fadas. Faço sexo com toda criatura, preferencialmente morta, detentora de um cu. E saliento: por que fazer tanta apologia das vagabundas? Todas fêmeas, sem exceção, têm encanto. Conheço um método capaz de embelezar quaisquer mulheres.

– Bebida?

– Não. Carência.

– Pensei que fosse apontar “o amor”.

– Amor? Jamais. Hitler amou. Não sou nazista, Dolmancé.
.
.
______________
* De bom tom ressaltar o seguinte: toda teia moral, toda rachadura social e toda goteira política desembocam na religiosidade; logo, a vasta lambança religiosa, unindo estes "três poderes" sintetiza, idoneamente, tudo isso. Todos os feitos humanos vão ao encontro direto (e marcado) dos interesses duma determinada religião. Ela conduz os interesses estatais, intromete no conceito de moral e ética, manipula o processo educacional, aleija as relações de consumo, crucifica o livre pensamento, esquarteja a cultura e a arte (e até envenena a culinária). A ação duma religião, ainda mais aquela oficialmente organizada, posta tradicional, confunde-se com o modelo estatal imposto e atua facilmente, pois, por intermédio do Poder Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Ela tem o poder de determinar ou modificar valores em todas as esferas, sempre em conformidade com o que lhe apetece. Suas benesses, as quais pousam sobre a inteligência espiritual do "povo fiel", geram uma invariável intolerância por parte de um "povo fiel" em relação aos fiéis doutra religião e vice-versa, sendo assim, a escolha pela "outra" culmina na infidelidade, só não maior que a daqueles que abolem a fidelidade a qualquer instituto religioso. Ou seja: a fidelidade [religiosa] nada mais é que uma devastadora ilusão, sobretudo ingênua, pois se eu milito numa religião, só posso ser fiel a esta e, inevitavelmente, oponho-me a outra, ao excluí-la; logo, convém concluir que todos, religiosos ou não, são condenados à infidelidade.