Nunca, em nenhum lapso da história encardida (e documentada) dessa lambuzada espécie, houve tamanha oportunidade para assumir-se ateu. E tal compromisso não se restringe ao ato de dizer-se, mas ao de começar a agir. Peroro em tom de candidato a presidente de DCE intencionalmente. É a ocasião adequada para sair do armário e quebrá-lo a fim de anular o retorno. O hype (leia-se "coletivo para grunhidos neopentecostais") no Twitter: o ateísmo é mais uma outra religião. Os ateus tornaram-se mais intolerantes que os religiosos e nhenhenhem.
[respira]
Tente pensar por outra via. Use a inteligência alternativa. De medida para medida, a pretensa doutrinação atéia demonstra-se razoável, diplomaticamente pífia, pois há quanto tempo religiosos das mais variadas estirpes massacram a humanidade e extirpam a concorrência, digo, ateus? Até parece que há um templo ateu, um canal de tv ateu, novelas atéias, programas, passeatas, impressos, ongues, disciplinas atéias inclusas na grade curricular das crianças, ateus lavagencerebralizados a abordar transeuntes e distribuir-lhes panfletos. Quando chiam que estamos diante duma iminente ditadura atéia, essa cena tragidramática é exibida na minha cachola. Exagerada, mas concreta quando invertida sua polaridade e devidamente cristianizada. E a afronta dispensa sutileza, pois deve recair principalmente sobre cristãos reformados, e nem preciso elucidar os porquês. Ah, vá. Ah, vão. Fff. Noobs.
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Os teístas (cristãos) pervertem aquilo que lhes deixa acuados. Impulso de bichanos amedrontados. Reação instintiva daqueles que se valem da desculpa mais obsoleta para se vangloriarem do ato mais covarde já visto: precisar de uma divindade para existir, justificar a própria existência e a morte. Desde que humanidade é gente e de que povo é massa, a religião tem controlado tudo por aqui. É tempo imemorável. Talvez tão antigo quanto a origem da matemática. Certamente mais antigo que a arte de grunhir, à qual Saramago reluta em aderir.
[respira]
Prove-me qual desgraça a sua religião não cometeu que lhe confesso a qual deus oro. É assim que a coisa deve funcionar: hoje, nesse momentinho bosta, pois desde incalculáveis ontens as religiões matam, e aqui tomo a acepção bruta e pragmática do verbete e a aplico a um leque histórico cuja dimensão pavoneia estaturas sobrenaturais. A religião mata.
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Ainda. Em pleno HOJE. E um dos motivos é: você, que é ateu acanhado, não sai do conforto do armário, por “n” motivos, claro. Qualquer analfabeto de espírito, bastando-lhe sã consciência e um clique no tempo, sabe o quão implacável e tenebrosa afiguram-se as conseqüências ensejadas por tal disposição. A religião legitima qualquer monstruosidade, inclusive assegura o direito de criar o seu monstro metafísico pessoal. Não só garante, fomenta! Vê beleza nisso. Mais que Mutarelli vendo a poesia em carne e osso em vermes devorando sua própria carcaça. A essência (não gosto desta palavra) da dignidade humana depende do amor irracional e imaturo duma invisível e improvável idiotice indelével.
[respira mais fundo]
Deus satanizou a hombridade humana. Note-se que aqui emprego a “blasfêmia” em sentido estritamente bíblico. Mas a religião escreveu a história. Definiu as regras. Rasurou todas as possibilidades de exegese, semântica, lógica e bom-senso. “Ah, mas você tá exagerando, tá de mimimi.” Mimimi é a mamamãe. Desde que humanidade é gente, religiões influenciam e determinam tudo, sobretudo o que não existe. Oficialmente, o ateísmo organizado (leia-se “descriminalizado”) data de pouquíssimo tempo. Você, religioso, temente ao seu personal imaginary friend, há milhares de séculos detém o direito de ir e vir. Tem-se a impressão de que você sempre controlou tudo. Ocorre que hoje, mais do que nunca, você perdeu o controle, inclusive sobre seu leal e dócil amigo. Chiar que ateísmo é (intolerante) como qualquer teísmo é afirmar que ambos sempre andaram LIVRE e EXPLICITAMENTE lado a lado. É ver ateus cercando transeuntes em par de igualdade, numa hipotética e freqüente disputa com os “demais” religiosos. Durante séculos, desde a era em que nem sequer a memória existia, você vem corroendo a paciência, empurrando goela abaixo o que deus lhe fala. Doe um pouco de sua preciosa atenção dedicada ao "Anônimo de Mil Patentes" e ouça o clamor de um reles bandido condenado à mesma "cela" em que incontestavelmente trancaram Chaplin e George Carlin. Falo contigo. Com todos. VOCÊS se encontram em uma igreja, templo, sinagoga ou terreiro... onde lhes aprouver. E os ateus, que se encontravam às ocultas nos becos da existência, disfarçados de clérigos?
A religiozice escreveu deus. Arriscado conjugar ATEU no plural, pois somente agora um ateu confesso ouve ecoar um “sou ateu” (um pouco aliviado), de outro ateu, que se sente à vontade, digo, menos desconfortável. Presumível reflexo pós-traumático de quem vem aceitando o debate, desde que o mesmo funde-se em MEUS valores, MEUS padrões, MEUS estereótipos. Vamos discutir religião, mas deixe-me incumbido do encargo de selecionar e afiar as lâminas. Aliás, permita-me definir o que é lâmina e o que é duelar. Tenho traquejo nisso. O quanto-como-onde-porquê. Deve. Deveria ser justamente o contrário. A história escreveu a religião. Mas não o é. O ateísmo é tão remoto quanto o sentimento apelativo ao extraordinário. Bem como qualquer outro animal, o ser humano NASCE ateu.
A ausência da idéia da existência necessária de um deus precede o esboço de qualquer outra idéia. O homem, em sua essência imaculada, não precisa de deus algum para caminhar. Saia do armário e o quebre. Sim. De posse da sanha clichê. E mande às favas o primeiro carcereiro de Cresus Jisto que lhe importunar, porque respeito a gente dá e esbanja a quem não desacata a própria cerebralidade. Até Augusto Cury, o Michael Jackson da auto-ajuda brazuca, reconhece o seguinte axioma: "a dúvida é o princípio da sabedoria." Assim sendo, orgulhe-se de ser ateu e comece a reescrever e rasurar essa longínqüa estória.
O nome de deus só vale a pena se pronunciado em vão. Seja panfletário. Confeccione camisetas estilo Che-PC-do-B-aboinado-arranca-suspiros e mande brasa. Se possível, mande bala. Crie frases lugares-comuns de impacto e em alto-relevo. CHOQUE empregadas domésticas Made in IURD. Distribua sua cartilha na porta de escolas, bancos, igrejas e delegacias de polícia. Ir preso nada! Não deixe o desânimo lhe abater. Aproveite para catequizar os detentos-camaradas-velhos-de-guerra. Crentes atuam é aí! Organize rebeliões. Desorganize caravanas rumo à Canção Nova. Piche muros. Piche andarilhos. Piche sua mãe, pois tenho certeza, a mesma que ela tem em deus, de que ela é católica. Passe trote na casa de pastores ou coisa parecida. Caso queira, sei o número do celular daquela mutação medonha resultante da cruza de Amado Batista com Fábio Jr: o padre Fábio de Melo. Que tal?
Prepare seu baseado com uma folha do Alcorão. Não contenha a sanha, não faça como aquele tal de Varg Vikernes que se contentou com atear fogo em igrejas. Reúna a galera e toque o movimento tocando fogo e fogando toco em sinagogas, mesquitas, orfanatos, creches, fazendinhas de recuperação de drogados e nhenhenhem e não poupe padarias: é lá que fabricam o corpo de Cristo. Moleste o padre de sua paróquia "em meu nome!" Piche mais uma vez o barraco da empregada doméstica batizada no fogo do Espírito Santo. Mije no fogo do Espírito Santo. Apague o pavio curto do homem-bomba. Tire o punhal escondido dentro do seu boneco do Fofão (eu sei que você tem um!), corte os pulsos e ofereça seu sangue a Richard Dawkins. Aeee. Bravo! É justamente isso o que eles MAIS TEMEM. Eis aí um ponto fraco de deus – se não o maior. Infle o peito, incorpore o romantismo viking de Johan Hegg e vocifere: "Eu sou ateu".