16/11/2007

Madê

Aos restos imortais de Calíope
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Acordasse com teu sorriso à minha fronte,
manteria a janela trancada,
abriria mão da luz solar.


(sucedendo estoutra sorte...)
Caso não despertasse contigo,
entrerrisonha, e no pique,
e gotejando útero afora,
gargalharia ao ver-te chorando, espremida,
pela janela, sangrando-te, até expelir o feto,
em meio à chuva graxenta, grossomolhada.


Acordado, flerto contigo, mademoiselle:
a ti (agora, diante de tua buceta tetanizada)
confiei uma fresta vasta
a qual não soube aproveitar,
pois – cá entre nós – mais ninguém,
além do hipotético intimismo*,
adentrar-me-ia.


Com licença:
vou dar à outra luz
que me obedeça
sem me sujar.
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*O egoísmo configura, por excelência, a forma legítima de altruísmo, pois não há ninguém capaz de permanecer mais solícito em relação a mim do que eu próprio.

01/11/2007

Ha

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Sabe quando um rapazola classemediano passeia no carro do papai, acompanhado da namoradinha, e de súbito a cutuca (ela, debruçada na janela, armando uma satisfação solar pra que os de fora a notem), mostrando-a um sujeitinho esfarrapado, opaco e a pé, do qual riem – porque o descaso gratuito implica bem-estar – até o carro se desgovernar e esmagá-los contra um poste?
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..
Pois então, sou este sujeitinho.