06/08/2008

TPM

Enquanto tragava minha bituca, chupava um café e digladiava com o remorso por ter sapecado uma formiga com a brasa, comecei a pensar “como posso ser tão cruel por ter feito isto com uma mísera formiga?”, “se ela é mesmo mísera, qual o problema em queimá-la?”, “ela bem que mereceu: quem mandou nascer insignificante?”, “se é mesmo insignificante, por que me fixo tanto nela?”. Ideações absurdas vinham futucando cedo. Decerto um desespero meio kafkaniano causado pela inoportunidade de anotá-las as tumultuava ainda mais, pois que as neuronóias surgiam no ambiente de trabalho, em frente ao chefe e eu tinha que registrá-las de qualquer jeito e eu não tinha peito pra isso e aquilo e enfim desisti de escrever isto. Márcia Denser (não vou pôr linque, se vira no Gúgou!) está coberta de razão quando assevera que o ato de escrever precede muita coisa considerada importante (pelo leitor-leitor) e, no fim da parada, a gente está cara a cara com uma bosta de Documento 1 – Microsoft Word, maldosamente peladinho. Maldosamente peladinho porque tudo o que é nu, branco e vazio mete uma respeitosa arbitrariedade – ainda mais quando, sozinho, converte hífen em travessão. Escrever é foda. Messs. Mas não tem nada de prazeroso no final das contas. É doença. Transtorno Psiquiátrico Maior. Quem escreve está sempre com qualquer coisa, em formato de brasa, infernizando a cabeça. Só não inferniza tanto porque não inferniza apenas a cabeça da gente.