Na fossa. No subsolo do esgoto. Tão abaixo que nem a ideação suicida alcança. Engasgado de escuridão. Que fazer? Tristeza edemaciada. Oco da envergadura da fobia de Allen Shawn. Ouve não ter motivo pra não dar vazão à depressão. Revisita principalmente imagens da filha. Depois a de uma menininha portadora de epidermólise bolhosa. Tenta reagir. Descentraliza-se. Reage. Sobe um degrau. Titubeia. Mas a mãe precisa dele. Irmã. FILHA! Sobe mais um degrau. Agenda consulta com um psiquiatra. Inicia o tratamento com 80 mg diários de Fluoxetina. Inicia psicoterapia, todas quartas. Precisa parar de encher a cara. Depakene. Retoma a rotina e o expediente, entre um efeito colateral e outro e outro pior que o efeito. Sobe mais um degrau. Abraça a filha. “Te amo, pai.” Joga Mario com ela e jogando, sobe uns dois degraus. Refestela-se num sono menos trêmulo. Sonha. Esfola o cotovelo nalguma maciez. Sobe além. Desperta em horário comercial (normal, conforme reza a cartilha da felicidade). Toma a seco sua Fluoxetina e engole mais um degrau. Vai alto, e de cima de si, pula de cabeça na vida e não mais se levanta.
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6 comentários:
Wow, a rítmica da escalada. a resignação desesperada as exigências da vida. concisão estilística.
invejo esse talento.
A vida é mesmo chegada na horizontal com achatamento de crânio, daí inventaram o elevador com algodão fofinho nas laterais pra gente ouvir mais o nenem do que o resto.
Parece que todos tomamos uma injeção hipódermica.
despertar no horário comercial? que sonho!!
mas melhor ainda é ir em frente, de preferência pra cima, mas definitivamente nunca pra trás.
Ótimo texto, como trocar de sangue.
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