24/10/2007

Corró


Es gibt immer Gerechtigkeit, wenn das Gedicht die Poesie bestraft

..

A salivação, a sudorese e o choro
enferrujam as figuras metálicas,
talheres e candelabros,
utensílios onde o poeta se reflete,
enquanto extrai um pêlo
a eclipsar o que tem de pênis
pra Armin Meiwes mastigar.
.
.
Da poesia, ainda ouço estridentes gritos
(ou seria apenas a reprodução dum único urro,
ou a teimosia do último eco, imobilizado,
bondage? – dentro da boca que,
quando o diz, maldiz aquela,
porque a sabe atada na própria língua?).
.
.
Agora, devidamente amordaçada,
geme sua última vogal,
na medida em que pauladas
determinam suas pernas.
.
.
Ouça, a poesia tenta subornar!
(_______________nem_________?)
Leva pedradas na boca,
regurgita as pedras do rim,
não vale a bílis prostrada
perante a bota do carniceiro bratislavo
d’O Albergue de Eli Roth.
.
Ouça, só o poema imola a poesia!
(_______________n_m_________?)
Engasgada com a genealogia
e a poeira de tantas correntes,
tosse sua última vogal,
na medida em que Belphegor
desfibra as testemunhas,
Apolo e Dionísio.
.
.
_______________
Ilustração de Bessonov Nicolay. Interrogation of Marie Curlie (2001).

11 comentários:

L. Rafael Nolli disse...

Ricardo, nada mais pertinete que o teu poema. Concordo contigo: há um crime em aberto, sem nenhum acusado atrás das grades. A poesia não foi morta, muito menos devorada, pelo açougueiro de Rotenburg; ou alvo de algum sedento maníaco sem propósito aparente. Poetas armados de paus a rapataram. Sectários trancaram-na no porão. Sobre tortura, os gemidos da pobrezinha vai parar nos livros - onomatópéias devidamente arranjadas de uma forma concisa, obedecendo a uma forma tirânica que não suporta conteúdo algum (outros preferem usar o termo Revolucionária Construção em que é Potencializado o Espaço da Página {algo assim, não sei ao certo}).
São esses os últimos suspiros de sua infeliz passagem por aqui. Arrancam-na bilis a socos, fatiaram a sua carne um pouco por dia para um churrasco sem sal, onde se idolatra as facas e os talheres!
Convem buscar as testemunhas.



ps. Show de bola os aforismos! Voltarei para comentá-los em momento oportuno!

flaviooffer disse...

Eis que ossos, escombros humanos e poesia se ajuntam ao fundo da masmorra... Eis o grito improferido, eis o verso engastado pelas ferramentas de tortura...

boa sacada, camarada!

Abração!

Anônimo disse...

Quase esqueci como era esse lugar... Você, autêntico como sempre! Abraços

Anônimo disse...

Urro que só os grandes sabem fazer!
Mas que vital, maldito e essencial.

Velho, fiquei arrepiado!

Abração.

Unknown disse...

Nossa, toda essa mordacidade verbal tecida sobre a tez da sensualidade literária left me breathless...

Parabéns mais uma vez e bjssss p/ vc, meu caro amigo e nobre escritor mineiro!

Paulo Castro disse...

Sei lá, amore, meio sádico, né ? ( ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahhahahahahahhahahahahahahahhahhahahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahhahahahahhaaha) como chutar cachorro morto.
Poesia virou scrap.
E daqueles irritantes em negrito com imagens de preto pobre, voa voa borboletinha.
Já assistiu "VIVI FERNANDEZ: www.anal" ?
Isso sim é poesia, e épica: todo o processo de dar o cu, os jogos, as interações semânticas..., enfim, quando vc vier aqui nas férias, assistimos juntos.
Eu comprei.
Ou queriam que eu gastasse minha ninharia com um livro do Quintana, porra ?
°
Te amo.
Bj.
°

Anônimo disse...

Sempre um esporro, sempre um prazer.
Mordida de cachorro que ladra alto.

Anônimo disse...

;^)

Anônimo disse...

Véio, tem um convite pra você no meu blog.

Veja lá por favor.

Abração e ótima semana.

Samantha Abreu disse...

fiquei incomodada... sei lá.
uma coisa me arrepiando enquanto lia. Interessante, isso.

Muito bom!


ps: me veja NO FALÓPIO, hoje:
http://versosdefalopio.blogspot.com/

Beijos!

Laa Kybele: disse...

Um shot louco de Bilac com Carrol, na veia de um poeta muito afebrado.
Vc é foda-
Beijos!!