19/08/2007

Aposto 70 virgens!

13:04, no semáforo:

– Moço, compra um quibe de mim? Custa só doi reao, pode sê?

Uma senhora, chupando mexerica e cheia de bobs no cabelo, consulta o relógio do toca cedê no qual acoplou uma Kombi:

– Putz, são 13:10! – ela atropela o sinal vermelho e atinge Henry Sobel bem na faina. A quibarada despedaça e a nota de doi reao vai pousando no PARE. Sobel, levitando em direção ao garantido Firdos, estica o braço até estalar, e não a alcança. No trajeto, observa um formigueiro cinzento de operárias ápteras abordando Alexandre. Conduzem-no à 789ª Delegacia Seccional de Polícia Civil. Lá, haurem seu testemunho sobre o atropelamento. O Rolex Oyster Perpetual do delegado marca 18:20. Alexandre brinca de modelar o quibe remanescente durante a lavratura do beó. Assina um termo de comparecimento para o dia 37/13/__. A autoridade o libera. Alexandre dá um rechonchudo suspiro, mas chegando no estacionamento não encontra sua jog. Com os doi reao do salgado pega um teletransportador de moléculas o qual enguiça no meio da viagem. Atrasado, falta ao compromisso na redação da Bravo!. Bate na porta, interrompe a reunião. Roberto Civita, mais puto que Satanás possesso pelo Exu:

– ...LEXANDRE SOARES SILVA: o sr. está DES-PE-DI-DO! E pensar que (...). Ora. E não adianta, pode chorar até morrer!

– Espera, vou explicar: entrou um trigo integral no meu olho – tenta se justificar, petelecando um naco da coisa grudada no cotovelo, enquanto o recém-chegado Sobel mal cumprimenta Alá e já propõe:

– Aposto minhas 70 virgens que em menos de meia hora Alexandre pinta por aí! – e começa uma contenda, joga um monte na cara de Alá, insulta-o ao abrir mão das virgens. – Pô, o que fazer se o corpo delas é puro ectoplasma, hein? Meu bago e estas vaginas holográficas não combinam. Qualé, Alá, já saquei a sua: as moçoilas permanecem, por uma questão lógica da sua metafísica sacana, intactas; lado outro, os machos, inclusive o sr., ficam aí, ó, que coisa nojenta: trepam tanto que um se enrosca na barba do outro. Coisorrorosa. Este paraíso não rola, tem menos carne que quibe! De todo o merchandising sobre paraísos, o seu é o mais fraudulento. Devia ter ouvido Karol Wojtyla, pois no céu de Anton LaVey não falta açougue nem chucrute.
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À esquerda, aponta a auréola de Alexandre. Sobel, ao ver, arma o sorrisão e recepciona:

– Bem-viiindo, Alê! Ah, por falar nisso, cadê meus doi reao?

– Enfia. – responde Alexandre, entregando-lhe um quibe esmigalhado.


13:04, no semáforo dum universo paralelo, à parte:

Desta vez, Henry Sobel não aparece oferecendo quibe aos motoristas. A mulher chupa sua mexerica e avança sobre o sinal vermelho qual um touro. Alexandre é o primeiro a chegar na reunião da Bravo!. Pra passar o tempo, pega a Folha e lê, no caput: RABINO REVELA O ESCONDERIJO DE BIN LADEN E DEPOIS SE ENFORCA COM UMA GRAVATA FURTADA.

Osama Bin Laden foi localizado e sumariamente condenado à morte (como se uma condenação à vida não fosse o bastante), mas antes, à luz do Código de Hamurabi, fez seu último desejo: "I just wanna eat a Big Mac". Quando Bush ia triscar o "on" da cadeira elétrica, em cadeia universal, Condoleezza Rice rapidamente se levanta da primeira fila e avisa-o que Bin Laden já está morto. Pra compensar tamanha decepção e mico, a platéia, depois de vaiá-la, lincha Condoleezza no estilo enamorado à la Mel Gibson, coloca-a pra tostar na cadeira, até ficar preta.

Dois anos decorridos, ainda não há consenso quanto à causa mortis do terrorista saudita: fanzines sensacionalistas de punks hare-krishnas dizem que ele se engasgou com a folha de alface e morreu asfixiado, atiçando a cólera de vegetarianos compulsivos anônimos. Um idôneo laudo pericial afirma ter sido botulismo, corroborado pelo fato de Bush ordenar a invasão de todas franquias do McDonald's, a fim de apurar se nelas há latas de intoxicação em massa, além das de tomate.

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13:04, eita semáforo:

70 virgens vendendo quibe, pe-la-di-nhas e com aquele bigode que só Hitler tem! Uma delas bate à janela da Kombi:

– Moça, compra um quibe de mim? Custa só doi reao, pode sê?

– Tsc, hoje não. – respondo, piso no acelerador, atropelo umas 10, e enfim chego no salão a tempo de me aprontar para a cerimônia de Bush e Bin Laden: os dois primeiros terroristas gays a casar numa sinagoga maronita.
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13:04, no semáforo (cena cortada)

Bush veste um curtíssimo, desenhado por Anish Kapoor; Laden, um longo kilt com estampas lowbrow, por Herchkovitch. Presentes os primeiros mandatários representantes do G8, em ordem analfabética: países mais pobres da pangéia e Brasil. Personalidades festejadas. À esquerda, skinheads franciscanos antitonsura acendem o Souza Paiol, em uníssono. À direita, sentados no chão, jogando 5 Marias, vegetarianos viciados fumantes de mandrágora e cyberpunks hare krishnas folheando Carpinejar. Ao fundo, a seleção umpalumpiana de para-rugby. Elton John destampa o órgão. Bush entra, seguido de Michael Moore trazendo as alianças num relicário de âmbar. Anna Netrebko inicia o mantra da Internacional Socialista. Percorrido o tapete, o padre maronita, já de frente para Laden e Bush, após o falatório de praxe:
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– Quem se opor a esta união, que se manifeste agora ou se cale para todo o sempre! (___) Arrrhã. Gê Dáblio Bush, o sr. aceita (___) até que a Morte os separe? (Moore não se contém, deságua). Osama Bin Laden, o sr. aceita... – Monique Evans interrompe o sacerdote, cortando a cerimônia com seu microfone. O ambiente, impregnado de Souza Paiol, provoca tosse em Netrebko, que engasga. Elton John?, nem aí! (___) Bush arremessa o buquê, a Morte solta a foice e o apanha. 14:12. Horário de Brasília.

5 comentários:

Grazzi Yatña disse...

Aposto no azarão é claro..o quibe!

Anônimo disse...

Tomara o "Alexandre" não chegue,quero ver o outro arrumar 70 virgens! Nem em berçário tem uma quantia destas, quanto mais no paraiso...
legal, cabeção.Gostei.
bjo
Dani

Ricardo Wagner Alves Borges disse...

Cássio, tá funcionando...

Anônimo disse...

Meu brou,

Melhor impossível.

Gostei do churrasquino da Condollezza seria demais!

E o fim é fantástico, os dois gays...

Hahahahahahahahahahaahahaha!
Bom demais Cazuza!!!

Paulo Castro disse...

Passeio em universos paralelos terrivelmente parecidos com o nosso, se não fosse um riso esboçado ( algo besta na minha cara), seria desespero de tédio de hiper-notícia saturada.
O tesão hoje é criar a própria notícia. A ficção. Vc dá esse tesão. Universos paralelos como canais de tv por cabo, que a gente vai mudando e o canal de compras é idêntico ao de Notícias e dos filmes de Arte.
Se tenho alguma boa notícia no front é que vc precisa pesquisar sobre um livro chamdo "Phutatorius", Jaime Rodrigues. É de 1979, mas foi reeditado pela DBA. Ele me traz vc inteiro, especialmente nesse texto seu. E no posfácio, uma biografia do autor. Leia. Tarot hereditário. Compre via internet. Não se acha. E o nome do Jaime nem adianta Google. Ele já morreu e ninguém sabe dele.
Só que vc sabe dele sim. Preciso unir os dois em sagrego matrimócio. Quem sabe assim, mais de vc exponenciado: algo que aparece na tela da minha tv quando eu a desligo. Perfeitinho pra mim.
Beijos.
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