31/01/2007

Banquete natalino ao deus das moscas

El mata moscas - Santiago Paulós (http://www.santiagopaulos.com/)

Ceia comigo. Como de costume, hei de ofertar-te carinho e apreço se aceitares o idioma arcano. Brinda comigo a natividade do messias ao avesso, brinda? Deita-te comigo sobre a estria clorótica do mofo edênico. Sim. Prometo-te fidelidade incondicional à tosse soberana, ao tufo, à cólera, à deformidade sifilítica. Servir-te-ei o manjar da lava bruta. Compartilha a sombra cristalizada. Ceia. Trisca teu cálice jateado em meu cálice, fartos do sangue venoso. Empapuça-te com a pústula moça. Aceita um gesto incrustado no eczema. Beija-me a hemorróida aflita pela saliva iniciática. Ascenda, comigo, do estrume – esse umbigo! Conheça a viga mestra da masmorra indelével, intacta. Ceia. Esfrega o antro em teu céu da boca – agora, no meu. Coça o prepúcio com a ferrugem da prataria romana. Contempla o soluço afinado a ferro, brasa e lâmina. Regurgita a casca da maçã na raiz da culpa genealógica. Escalda o cordeiro recalcitrante a buscar asilo. Isso. Embriaga-te com a novidade dos berros. Retira da mesa o fermento do pão vicioso. Desmata a parreira. Semeia a macieira. Coça a comichão escrotal com um ramo. Beija-me a hemorróida, o ânus latejante a hibernar sob o formol. Sê entusiasta da disciplina a entediar o espectro. Oferta-me: introduza tua excreção em meu ânus amigo. Sim. Venha, estrume adventício, auréola do ardor. Engendra a vaidade-filha unigênita do método escuso. Sobreponha a rusga no pedestal. Penetra-me com a gazua da castidade. Ceia comigo. Fela-me de poro a poro. Lustra a culinária com a viscosidade virginal. Abata a família. Faça-me o sal sobre a chaga hereditária. Ceia com o arauto da gangrena híbrida, porém fauvista no cheiro. Urina o bálsamo. Oferto-te fidelidade incondicional à pestilência, às ulcerações. Prometo-te carinho e apreço caso entoe comigo o idioma ancestral. Coça o prepúcio. Esfrega em meu ânus os restos orgânicos. Coloca os papiros dentro das tripas. Hei de relatar teus feitos bravios às camadas inferiores. Deixa os piolhos verdes fugirem vivos da macieira. Deixa o visco lubrificar o que me empala pelos poros. Fela o coagulado. Permita a calosidade detenta tocar-te os lábios – com os mesmos dedos definhados que há pouco estrangularam a autoridade. Mas antes, aceita o filete desta brasa modesta. Sacia comigo a tara do menino anti-esperma. Sirva-te. Flerta com a nervura do banquete morno. Rumina o dentro do prato de estrebaria. Mastiga o choro e a intenção de colo. Venda as amêndoas com a Faixa de Gaza. Rouba e arremessa os mil verbos em direção à estrela de Davi, assim invocando o eclipse. Ceia. Tu mereces, apesar de não sabotares a arquitetura da manjedoura conforme designado – lembra-te, filisteu? Unta os pequenos restos com esperma de suíno. Dê-o de comer ao homem. Esgana os Reis Magos. Enforca o arcanjo das asas com penas de pomba – usa o frágil umbigo do pequenino. Comigo. Sê obediente. Pega. Trespassa o objeto no outro objeto: embebido na mirra do amarelo Gaspar, forjado com o ouro do branco Belchior, na vulva daquela. Mas antes que este artefato metálico musique o orgasmo pleno, empurre-o até à goela uterina. Fatia o fruto enjeitado pelo ascendente adotivo. Coroa o hímen com espinhos. Esmaga a data santa que ela gera. Ateia, depois, o fogo no incenso do negro Baltazar, pois o deus das moscas chegou – vejas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Disparado, o melhor blogue de todos os blogues!

Anônimo disse...

Rapaz, concordo com teu amigo acima.
Esse foi um dos melhores que já li. Gostei muito desse estilo-oração ! Como sempre, bem sinestésico, eloqüente e inteligente. Parabéns =) !

Anônimo disse...

Cortante como a guitarra de Jimi Hendrix em Voodoo Child.