13/08/2009

O querubim safado

Alguém já se perguntou se anjos benfazejos não passam de dublês invisíveis que deixam de nos substituir quando a pirraça lhes aprouver?

E não é só isso

Quando parafusava o vedante pra porta, pretextando impedir a entrada de anjos, um deles me pisa na mão quando apertava a última contra-porca Dor não senti, só um formigamento manco, pois tais seres, além de portarem o peso da ingenuidade e viverem descalços, têm os pés macios e massageantes, como se metodicamente recebessem imersão em urina humana — a qual contém o composto uréia, cujas propriedades hidratam e cicatrizam Só sei que segurei sua canela e ele não conseguiu içar vôo Foi fácil detê-lo ali, dado o seu não-peso Já em pé, flertei com ele, e fiquei de quatro quando o ouvi choramingar deixe-me ir, não me machuque, tenho de ir senão o bom da boca vai se zangar comigo, vai me castigar, descer a auréola até minha cintura e me obrigar a bambolear, caso me dedure

A voz infantil e farinelliana daquele azulejo alado me deixou com uma baita ereção, e sei que ele, quando sentiu meus calos em suas canelas lisas, fremitou-se duplamente — sentindo tesões peniano e vaginal simultâneos —, reação natural, considerando a perfeita natureza hermafrodita dos anjos Trepamos naquele dia mesmo (penetrei-o com a dureza de quem entra no céu; penetrou-me com a moleza de quem entra no inferno), aproveitando a ausência de minha esposa, filhos, enteados, meu bode de estimação (levaram-no pra vacinar), testemunhas de jeová e demônios retardatários ///saibam que, a partir das 24 horas, os anjos se transformam em demônios/// Anjos personificam o bissexualismo: apresentam uma vagina ao ponto, seja no quesito aromático, seja no quesito lubrificação, seja no dilatação e fertilidade precoce (alguns sofrem de dismenorréia, inclusive TPM), ademais têm uma pica e saco adocicados: ideal pra quem enfrenta aftas Daí adiante decidi retirar a rolha do ralo, pois assim o anjo adentrava(-me), com a visível vantagem de ele, sendo invisível, mesmo sendo descuidado, não haveria, ao menos de sua parte, como imprimir pistas da prevaricação Nosso fito era trepar-retrepar-treparretrepar, sempre no mesmo horário e nas mesmas diversidades posicionais Nada podia ser melhor que chupar um cuzinho angelical, considerando o fato de nunca defecarem — salvo as notas musicais oriundas dum canto gregoriano desafinado

Certo dia, combinamos de nos encontrar às 15 horas, a fim de rezarmos um rosário ornado com dentes da dentadura dum fariseu (asseguram os gibis e Mel Gibson), mas ele desconversou Percebi de cara o improviso de justificativas das mais enxovalhadas, o que me levou a suspeitar de sua fidelidade — da qual já desconfiava desde a noite em que um demônio fez sua caveira Naquela noite, julguei dúbia aquela informação, mas não por desconfiar de demônios, e sim porque minha esposa havia me feito ingerir maisomenos 120 miligramas de Diazepam enquanto roncava, por conseguinte fui induzido a um sono pétreo, o qual me levou a considerar tais alertas como sendo meros arquétipos de um sonho qualquer Aproveitando o ensejo: quem já teve a sorte de sonhar com as barbas de Freud a lixar a nuca? Humm, De-li-ça! Anjos só têm um defeito: neles não brotam pêlos muito menos barbicha Será que Michelangelo acertou ao retratar na sistina um deus barbudo daquele jeito? Humm Prefiro a barba do deus de Michelangelo à barba de Freud, na certa

Preciso atribuir mais credibilidade aos demônios Quanto preconceito de minha parte! Flagrei, no fundo do quintal, meu bode xodó currando o ar, cujo arquejo era idêntico ao do meu anjo-biscuit

Além do flagra, o anjo me confessa uma miríade de casos, e o pior: me garante estar prenhe de um filho, MEU Asseverei só assumir a paternidade depois da resposta genética, ou seja, do afamado exame de DNA (pensei comigo: como seria possível aquele exame provar algo, em face de ser o material genético do anjo invisível?) Instei no exame de DNA, claro

Decorridos 12 meses, período gestatório completo de um querubim, ele me chega com o suposto filho, embalado num velocino de estrelas de davi O menino, era um menino!, tinha nascido invisível, em decorrência dos genes de caráter dominante do anjo — ufa Fui fazer, aliviado, um cafuné na cabeça algodoada do pequenino, a qual encobria dois chifres-bebê

— Ué, o que são essas duas saliências na cabeça do guri? — teimei, ao passo que o anjo responde, em afinação de cítara perversa

— Pois é: você ainda duvida que ele é seu filho?
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Por minha amiga Nina Tuklam.

5 comentários:

Cássio Amaral disse...

ricardo,

sua escrita é fatal e mortal.

te liguei várias vezes, seu celular não atende.

espero que você esteja bem.

abraços.

carlus disse...

que viagem...

Greyce Kelly Cruz disse...

ás vezes eu me questiono sobre sua normalidade...obrigada por fazer cessar minha dúvida!!!

Marilia disse...

Delirei, regozijei, enlouqueci no texto!

Samantha Abreu disse...

minha amiga de longa data...