30/06/2008

Mais citações dum cabra do bem


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Dívida

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Devo à escola, devo o aluguel, a água, luz, telefone, net, devo ao agiota, ao banco, ao boteco, à puta, política, ética, moral, devo à justiça, ao traficante, à compulsão..
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Paulo Coelho
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Não deve ser pedestalizado como escritor, nem de ilusionista de aniversário infantil, mago perrengue ou xodó de rodinhas ocultistas seixistas. Mas justiça seja entoada nos quatro cantos: em contrapartida, convém ressaltar que Paulo Coelho é um talentoso inventor, atento às necessidades, exigências e gostos do consumidor moderno: estima-se que impressionante fatia do globo terrestre (em ênfase o povo japonês, que relegou celulares, câmeras fotográficas e sushis ao posto de tecnologices secundárias) adora seu revolucionário papel higiênico em forma de livro descartável! Segundo a WTO (Organização Mundial da Higiene), o ousado Paulo Coelho vai lançar no mercado mundial, ainda neste ano, o chuveirinho de cu em forma de HQ tamanho americano. :::Lançamento previsto apenas na Molvânia:::
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Metafísica
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O estudo da metafísica antecede o de todas as ciências, e o filósofo sabe disso não pelo fato de ela não ser demonstrável, mas sim quando a demonstrabilidade clara e segura prescinde, segundo ele e suas prerrogativas, de necessidade probatória material. Há quem sustente sua fé (instrumento metafísico inevitavelmente em tensão com o racionalizável) e abra mão de se sustentar em algo pra sustentá-la. Outrossim, se tal filósofo figura o produto da própria crença, e se pra validar esta revoga institutos tanto dotados de crueza empírica quanto o supostamente lógico ou fora de arrolamento, tudo lhe é permitido e viável, inclusive conveniente, embora jamais digno de tolerância e respeito razoáveis. À razão nada escapa, tiraniza-se. Quem instrumentaliza tão-só a metafísica não sabe o que procura nem conhece a ocupação que manipula, até mesmo porque a natureza dos métodos de produção de explicações consistentes nunca pôde nem pode saciar a débil curiosidade inata ao homem, de cujos princípios se pensa em constante dependência conformada ao seu "nobre ofício". (...) Explicar o que se tem nas mãos (métodos científicos) não é possível quando não se sabe ainda explicar suficientemente o que são as mãos (objeto a se estudar). A tensão cria a extensão. E a profundidade chafurda em premissas rasas. E os lampejos mentais (avisos microscópicos enterrados no formol a mumificar o órgão-cérebro) não causam a impressão que se deve nos filósofos da metafísica (os da mente impalpável) como a que se flagra durante a ação e descobertas dos filósofos do cérebro (os da mente palpável).
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Presente
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Muito demente quem acredita na existência dum gorducho vestido de vermelho, segurando um saco newtoncardosiano no dorso, equipado de barbas longas, fartas e impecavelmente brancas. Todavia num velhote gordo, todo esfolado e sujo de fuligem eu não ouso duvidar. Nananinanão. Quando este velho gordo se entalou na chaminé de casa, minha criança fez questão de acender a lareira. Sim. O melhor presente que recebi foi a transmissão de meu DNA (o dominante) à minha adorável e prestativa filha. "Papai te ama, querida!"
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Fogo
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[Trecho duma conversa amistosa entre o amigo neopentecostal e o simpático mineirinho Varg Vikernes, conhecido por "Varguinho da Suécia"]
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EVANG.: De qual igreja você gosta, irmão?
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VARGUINHO: Uai, sô. Gós de todas, se e'as 'tiver queimada...
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Bahia
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Infelizmente, não tive ainda a oportunidade de ir atrás de Allan Kardec pra lhe dizer umas poucas e boas sobre sua fraudulenta doutrina. Um pessoal vestido de branco sempre se reúne pra dançar, cantar, bebe adoidado e fuma, me chama e não me deixa sair daqui!
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Óleo de rícino
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A pior invenção depois da diarréia.
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Preconceito
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Se eu lhe asseverar que não tenho preconceito, não só me pego em deslavada mentira, mas dou-lhe o maior flagrante de preconceito já visto. Só um morto se livra de preconceito. E por que só uma palavra de caráter excludente, proferida a um completo estranho, carrega teor preconceituoso? O termo “preconceito” abarca vasta, profunda e discutível conceituação. Todo juízo, pois, apriorizado, mesmo o em volta de alguém positivamente adjetivável ao pretexto –, se não conheço o objeto –, implica-o.
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Culpabilidade
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Se o alcoólatra é um autodidata, o álcool é pura metafísica.
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Solidão
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Desconfio que, quando alguém não consegue se afastar, dispensar a sociedade, sair, abster-se do calor social, este desenvolveu alguma espécie de síndrome do pânico.
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Humpf
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Tudo bem: as dependências psicológica, química e social iniciaram-se com uma escolha no passado, mas no passado não tive escolha de nascer de um jeito que seria inevitável lidar com tal escolha.
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Gravata
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Deposito sólida e incondicional esperança na observância, dinâmica e eficácia psicanalíticas. Um dia ela há de apurar, no tocante à vaidade institiva e/ou inconsciente, baseando-se numa abstração prazerosamente precisa que, políticos, magistrados, executivos, advogados, delegados, pastores, seguranças e garçons têm predileção pela forca.
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Solidão
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O homem nasce só e vai morrer assim, mas até lá, gente demais há de intervir neste encontro.
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To be
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Verme é urubu portátil; coveiro é garçom.
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Imparcialidade
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Nem mesmo a mais íntegra boneca inflável trata de igual pra igual.

5 comentários:

Samantha Abreu disse...

Sua acidez está litera(l)riamente azeda.
rs. Ui, que mistura...
Uns afororismos desaforados, deslavados, debochados.
Do jeito que eu gosto, e de ti também.


ps: adoro intervir na tua solidão.
Beijos.

Samantha Abreu disse...

Como sempre, tuas críticas são mordazes, meu bem. Já espero isso de ti, pois sei da acidez da tua língua em relação às tantas mazelas - relevantes ou não - que estão aí (aqui?) sob as nossas narinas.

O que importa aqui, creio eu, não é concordar/discordar de ti. Mas entender que existem três caracteríscas fundamentais para identificarmos alguém literariamente mega-desenvolvido: ironia, liberdade ideológica (verbológica!) e deboche.
E, dessas, sabes bem que estás repleto.

E ratifico: intervenho na tua solidão por esses motivos e tantos mais...
Beijo-te!

flaviooffer disse...

hei de concordar com os comentários da Samantha... pq o que mais admiro em sua maneira de escrever é justamente o deboche, este sarcasmo entranhado em cada linha, esta capacidade de alfinetar, esfolar, "agredir" através das palavras... sempre há quem discorde, mas... eis a liberdade do escritor!

o mais importante são as leituras que o texto possibilita...

abraço!
Flávio Offer

enten katsudatsu disse...

Mordaz, iconoclasta, Mortal...
Há no seu texto uma verve ampla, uma possibilidade bacana da crítica e auto-crítica de nós mesmos.

Ri muito de uns aforismos seus aqui sozinho. Sarcástico e de uma sacada ímpar. A sua foto de padre ficou show.

Abração.

Cássio Amaral.

Izabel Xarru disse...

HEHEHE!